Histórias de legados e superações


Quem foi Dona Maria do Carmo Lima Agra, mais conhecida como, Dona Mirete?

Pra mim, antes de qualquer coisa, D. Mirete foi minha avó. Não sei muito sobre sua infância e adolescência, mas lembro das histórias que ela contava e que meu avô também contava. Dona Mirete é filha de Dona Sinforosa e Sr. Policarpo . Ela contava que no Nordeste era muito chique nascer na Bahia, então sua mãe atravessou o rio São Francisco de barco, para que ela fosse “chique”; baiana.  A família da vovó é do interior de Pernambuco, Belém do São Francisco. Vovó teve vários irmãos: tio Mozart, tio Mazerine, tio Milvernes, tio Verdi, tia Durvalina e tia Colly.
Nasceu em 1922, casou em 1944, com 22 anos, com meu avô Japiassu Agra, mais conhecido como Japi. Vovô tinha que viajar muito a trabalho. Pelo que me lembro ele trabalhava na construção de estrada de ferro, fazendo exames de solo, etc...ele era geólogo. Então vovó casou e no dia seguinte estava no trem para o sul do Brasil. Ela e seu marido. Como era naquele tempo uma mulher se casar e deixar a família e o mundo que conhecia para se aventurar com o marido – que pouco conhecia – em outras cidades? Vovó era muito faladeira e adorava conhecer pessoas. Em 48 nasceu minha madrinha, Angela Maria e em 50, nasceu minha mãe, Helena Teresa.
Vovó morava no Rio de Janeiro quando Angela nasceu. E depois se mudou para São Paulo, onde minha mãe nasceu. Vovô trabalhava em uma fábrica de vidros a CISPER. E eles tinham  que morar na fábrica, o que era afastado da cidade (como hoje as pessoas moram em Alphaville).  “O meio do mato”, como diz minha mãe. Eram casas de funcionários da fábrica, todas juntas em um lugar lindo, cheio de árvores. A casa era linda. E minha lembrança de criança é de uma casa bem grande!
Vovó adorava cuidar da casa. Ela era muito preocupada com as arrumações. Tudo tinha que estar impecável. E as filhar limpinhas, cheirosas, arrumadinhas e comportadas. Era assim que vovó cuidava das coisas. Ela expressava seu carinho através de seu zelo.
Quando eu nasci, vovó tinha 50 anos. E durante a minha infância eu passei quase todos os fins de semana na casa da vovó e do vovô. Eu adorava os paparicos dos meus avós. Afinal durante 2 anos eu fui neta única. No início, os fins de semana eram na casa da Cisper, que tinha um jardim lindo e uma casinha que eu fazia de casa de boneca. Depois, vovô se aposentou e eles se mudaram para um apartamento na cidade.
Vovó adorava ir à feira, à padaria, à igreja e às casas de suas amigas. Ela também adorava que seus amigos fossem visitá-los, e aí preparava um almoço, ou um lanchinho, no capricho. Ela gostava de movimento. Já meu avô gostava de sossego – um bom filme de faroeste na televisão.
Vovó fazia uma feijoada como nunca mais comi em minha vida. E uma farofa de ovo MARAVILHOSA, com farinha que ela trazia especialmente de Recife. Ela também fazia vários doces de fruta – mamão, coco, goiaba eram os mais famosos. E quando o tema era salgadinhos, vovó fazia um salgadinho de queijo, pequenininho, cortadinho em formato de losango, que era de comer o pote inteiro! Essa receita meu irmão aprendeu direitinho e faz até hoje.
E como uma pessoa nascida Maria do Carmo vira Mirete?? A minha bisavó, Dona Sinforosa, leu um livro quando estava grávida e as heroínas do livro se chamavam Mirete e Collete. Então ela queria nomear suas filhas assim, mas acho que foi o padre que não deixou, ou meu bisavô...isso eu não sei ao certo.
Vovó desde sempre se conhece por Mirete, e sua irmã Colly vem de Colete. Nota-se que Dona Sinforosa e Sr. Policarpo eram chegados em nomes de pessoas famosas  (Mozart, Verdi...).
Vovó nunca trabalhou fora, mas se tivesse escolhido uma profissão a seguir teria sido enfermeira. Bastava uma pessoa da família estar doente para ela se mudar de mala e cuia para a casa do tal ente querido adoentado. E lá ela organizava os cuidados, trocava curativos, dava os remédios, enfim, cuidava como uma enfermeira zelosa de seus familiares doentes. Ela fez assim com vários membros da família. Eu lembro do irmão dela tio Mazerine, quando esteve doente com câncer e estava em tratamento, se hospedou na casa de meus avós, e ela era só cuidados com ele. Vovó tinha dificuldades em expressar carinho mas era muito amorosa, no entanto só sabia demonstrar isso através de suas preocupações e de seus cuidados de enfermagem.
Vovó sempre adorou uma conversa....lembro quando ela oferecia uma taça de vinho do porto para a sua visita e sentava para papear...fofocar...falar da vida alheia...nossa, como ela se divertia. Como meu avô era mais quieto, ele tinha muita muita paciência com a vida social da vovó. Uma vez minha mãe contou que quando estavam saindo para visitar amigos meu avô perguntou: “Voltamos a que horas?” (já louco para sentar em sua poltrona e ver TV) e minha avó respondeu: “Japi, nem saímos, como sei a que horas vamos voltar?”.
Vovô faleceu em 1999, depois de um bom tempo acamado. Foi uma grande perda para todos nós. Depois disso, vovó foi ficando mais retraída, mais tristonha. E após alguns anos foi diagnosticada com uma demência diferente da doença de Alzheimer. Ela foi perdendo a capacidade de se comunicar e interagir, mas manteve boa parte de sua memória preservada.
Apesar de debilitada até dois anos atrás expressava lembrar das pessoas que mais recentemente tinham entrado na família – meu marido, Alê, a esposa do meu irmão, a Dea, e meu filho, Theo, que nasceu em 2005. Ela já estava internada quando minha filha Nina nasceu em julho de 2009. Hoje, em alguns momentos ela parece reconhecer-me e ouvir o que digo a ela; enquanto na maioria das vezes, ela parece olhar através de mim e não estar presente.
Vovó Mirete teve 2 filhas e 4 netos – dois netos em São Paulo e 2 no Rio de Janeiro, uma filha em São Paulo e uma no Rio. Os netos são Cristiane e Rafael , filhos da Leninha, sua caçula; e Ricardo e Mariana, filhos da primogênita, Angela.  E 2 bisnetos, Theo com 6 anos e Nina com um ano.
Em sua última semana de vida vovó recebeu a visita dos netos do Rio, Mari e Rico. Foi um dia muito importante para todos que estivemos lá no hospital com ela. Dois dias antes de seu falecimento ela recebeu a visita dos Arautos do Evangelho, que lhe ofereceram a unção dos enfermos e fizeram uma oração linda, com a presença de minha mãe, minha madrinha, a cuidadora, Nadira, e minha filha Nina.
Já fez alguns meses que a vovó morreu. Se despediu do mundo ao lado de suas duas filhas. E agora... a história dela continua através de nós. Guardamos as sementes que ela semeou, regou, cuidou e fez brotar dentro da gente. Dessa forma Dona Mirete permanece mesmo após sua partida.

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Olá pessoal, compartilhamos um pouco do legado de nossa mãe Angela Maria Barreto,  bibliotecária apaixonada e dedicada a arte de ensinar enfrentou corajosamente as dificuldades impostas pelo câncer de mama e pelas metástases cerebrais.
Após 57 anos vividos intensamente e plenos da ânsia de conhecer, saber e transmitir , deixa para o mundo suas palavras escritas  que por tanto tempo foram sua companhia e agora nos acalenta , nos cobre e ameniza a dor da saudade.

Flávia e Daniela , suas filhas.

Entre linhas

 
Vivi entre panos, linhas e costuras.
Minha mãe passava as tardes à frente da Elgin, e de lá saíam prontas as roupas novas dos meninos, geralmente reformas das usadas camisas e calças de meu pai.
Ganhava tecidos nos aniversários. Cortes disto ou daquilo, musselina ou fustão, Piquet ou organdi. Algodãozinho ralo e estampado de minha avó Pilina, para as camisolinhas de dormir.
Nunca me esquecerei disso, todos os anos da infância.
Esta marca de panos, costuras e bordados é tão forte em mim que, às vezes, penso costurar panos e enlaçar linhas. Sinto a textura dos tecidos nas vezes em que tomo da caneta para escrever o que precisa ser expressado de mim.
É questão de reaver a serenidade quando ela me foge às mãos.
Escrevo porque não sei costurar.
As mulheres, eram seis, reuniam-se às tardes na casa de minha avó, à Rua Barão da Bocaina, e as crianças brincavam no quintal, comiam goiabas da D.Lordy ou brigavam, pois éramos muitos a aguardar pelas mães que se entretiam com as conversas e com as costuras, bordados, crochê e tricô.
Manufatura de sala de família, a “empresa” tinha muito mais a ver com o cotidiano e o afeto, do que com o dinheiro. Os produtos eram passados entre a família.
A colcha que ganhei quando nasci ainda aquece de carinho o quarto das netas. Babadores feitos pelas mãos da Pilina; ponto Paris pelas mãos da Bela; ponto sombra pelas da Sadore. Costuras da minha mãe. Sempre costurou para a família toda. Até vestido de casamento. O da tia Sadore ficou lindo! Sou capaz de me lembrar! Perfeccionista, minha mãe não se deu o devido valor. Só hoje é possível reconhecer suas mãos de fada madrinha.
Atualmente, tudo, ou quase, é produzido industrialmente. Mesmo assim, em casa de meus pais, uma cesta de vime ocupa espaço de destaque na sala.
Dentro da cesta, linhas, agulhas e tecidos.
Dentro de mim, uma saudade imensa desse aconchego em família, a tecer os dias e a cobrir de carinho a alma que hoje chora.


 
PANOS ANGÉLICOS
 
 
Chamá-los de angélicos é maneira de entendê-los sagrados. Esta, portanto, é uma homenagem aos panos que nos cobrem; uma reverência aos anjos, seres espirituais, portadores de mensagens e que se materializam sob as mais diversas formas e situações, sempre a nos proteger. Assim acontece com os panos, presentes o tempo todo na vida da gente, usados nos diversos contextos e cuja simbologia emana dos muitos cotidianos, nos protege, nos embeleza.
O que são panos?
Pedaços de tecidos, costurados, ou não. Mas não só! Eles se expressam.
Mas, o que nos dizem? Por que dizemos através deles? Como seres simbólicos, sempre que nos expressamos, usamos representações. Somos seres do mundo semiológico, principiamos do sêmen, sementes germinadas nos constroem semióticos. Sêmen/palavra o que nos cria e nos produz.
Somos seres dos significados, dos sentidos.
Daí meu desejo de refletir sobre um sentido para os panos e suas tramas; as que nos envolvem, aconchegam, apertam, aprisionam, libertam, enfim...
Panos são pedaços das tramas que se entrelaçam à nossa memória, nossos rastros e que, agora, tentamos significar.
E tudo começou dia desses, comum no cotidiano de uma avó. Estava escolhendo uma manta para cobrir a neta e me dei conta de que para cada ocasião, cada temperatura ambiente, cada situação que se nos apresenta,
buscamos os panos. Ri quando me percebi “empanada”, coberta de panos ou, como se queira, passada na farinha. Aliás, o prefixo de “panos” é pan, panis, do latim, e refere-se a pão, massa feita de farinha.
A palavra “companhia” também alude a pan (com pão) e creio que, mesmo sem fundamentos a me acudirem, o termo companhia diz respeito à divisão de pão, juntar o pão ou juntar os trapos, em linguagem comum. Pan também designa primata da família dos chimpanzés. Êta! Trocamos os pêlos por panos; nós nos protegemos. Que pânico! Nós nos desnudamos.
Pano é tanta coisa; serve como metáfora para muitos momentos. Os ditos populares que o digam. Essa conversa sobre pano dá pano pra manga, a menos que se queira deixar tudo debaixo dos panos ou colocar pano quente em conversa tão provocante, que terá como pano de fundo o pano e suas mensagens.



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A Mariana Crescenzo, filha da Claudia, deixou um legado lindo que hoje a Claudia cuida com toda a sua dedicação e carinho, o Instituto Mariana:

 O Instituto Mariana é uma organização não governamental formada pela união de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com as questões de oncohematologia, em especial, com a necessidade de ampliação do número de leitos, gratuitos e ou subsidiados, para a realização de transplantes de medula óssea em crianças e jovens adultos.
O Instituto Mariana visa diminuir a fila de transplantes não aparentados oferecendo leitos integralmente voltados a esta finalidade.

A Mari lutou por 6 anos contra uma Leucemia Linfóide Aguda-LLA, e viveu intensamente por 12 anos. Ela não permitiu que a doença nem o tratamento fossem motivos para apagar o amor pela vida.

Acesse o site e conheça mais sobre esse legado da Mari.
http://www.institutomariana.org.br/


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O estudante de medicina e poeta Marcel Ruiz escreveu várias poesias enquanto estava internado tratando uma leucemia. Escrever era uma maneira criativa de enfrentamento que não só o ajudou a passar por aqueles meses de internação, mas sobretudo foi lhe concedendo sentido em sua vida. Marcel deixou lindos escritos. Abaixo dois poemas:  
Ah! Essas cartas de amor...


Cartas de amor perdidas no tempo
Paradas num instante contente
Cobertas por pó que as castigam e prendem
Privando-me por algo que ainda não fiz

A folha já gasta com o tempo impiedoso
Já pode agora provar o momento
Que alguém já a leu curioso e perplexo
Fazendo-a num lance sutil e feliz

Lembranças de um tempo livre e doce
Que as vezes procuro sem onde buscar
Me sento no banco , já conformado
Que o tempo roubou-me o dom de amar

Triste , olho no espelho
E vejo oque aquele iludido e cego ainda não viu
Que o tempo passou e ele ficou
Restando-lhe apenas o prazer de lembrar.

            
                                          Marcel Ruiz

  Feche os olhos ( à minha mãe )
 

   Vai Mãe...fecha esse olhos
    Já verde de aflição
    Descansa essa mente
     Tão relutante ao não!
 
    Essas mãos que me atolam
    De carinho...mansidão
    Agora as quero leves, livres
    Bem longe da solidão
 
  Os risos que me lanças,noite e dia
   Me enchendo de alegria...distração
   Que se façam doces sonhos
   Nesse soninho à contramão!
 
    Mãe...como tê-la senão vivê-la?
    Nem o mais desgarrado,sem tato
    Ao mínimo cheiro,contato
    Jamais fugirá desse pacto!
 
   Esse pacto que é íntimo,profundo
   É nosso,certo...inexorável diria
   Que do ventre ao túmulo,fundo
   se traduz em amor infinito,dia a dia
 
  Vai mãe...descanse esses pés cansados
  que me tens carregado,esmagando sua dor
   Traduzindo em próprias trovas,suas
   Me inundando com seu amor
 
  Quero que te renoves,me mostres
  Que levantes com flores no olhar!
  E assim ver-te despertar
  Já notarei algo no ar,inusitado
 
  A face lhe peço,em prantos de emoção
  Em seu ombro me curvarei,humilde
   E chorarei...calado,te beijarei mãe!
   Já nada verei,pra lá desse clarão
 
  Mãe ... como tê-la senão vivê-la?
 Não me importa quanto,onde e como
 Quero tê-la junto à mim...
 E jamais não tê-la! E repito!
 
 E lá no final da vida,já sem ar
Quando os anos nos separe,
 fisicamente,ao menos lá
De mãos firmes,subirei contigo
 
 E num último ato humano
 Extravazado por nós,sem alento
 Aos céus colados,entraremos como os dias de nossas vidas
Desde o dia de meu nascimento
 
Mãe...Mãe...como amr-te sem abraçar-te?
Outros que pensem,se matem
De preocupação,de tê-la
Pra mim basta,jamais perdê-la!
Mãe...Mãe...como conhecê-la
Se não vivê-la?
 
Então assim lhe ofereço em vão
Meu coração.Quero que lhes faças o que for
Mas que antes me permitas,por favor
Em lágrimas declarar-te em risos
Em versos assim,a profundidade
Do meu amor!
 
Mãe...Mãe.. como viverei aos breus
Sem ter os carinhos seus?
 
                                                                Marcel Feitosa Ruiz
 À minha amada Mãe, feito enquanto dormia serenamente a meu lado me acompanhando numa cama de hospital.


Oi pessoas vou escrever...um pouco sobre a Mariana e minha vivência do luto e saudade...

Mariana..um ser humano único..um anjo emprestado..um legado..
Mariana minha filha falecida em 01/09/08 aos 12 anos..enfrentou por 6 anos com muita garra..respeito..amor..coragem uma Leucemia Linfóide Aguda..duas recidivas e um transplante de medula..
Ensinou muito e aprendeu muito..amou muito e foi e é muito amada até hoje..sempre intensa no seu jeito de viver..não perdia um segundo de vida..sempre comemorando qualquer pequena vitória..coloria todos os momentos..entregava-se por inteiro para as pessoas que amava..foi, é e sempre será minha grande mestre...sobre o amor, a esperança, a coragem, a generosidade..Nunca deixou-se vencer pelo desânimo..medo..sim teve medo mas encarou.. muitos momentos de braveza mas suavizou..participou de decisões e acatou outras...mas o mais importante foi a sua partida com tanta serenidade..preocupada em não me deixar sozinha..e não me deixou..ela vive dentro de mim...sempre viveu..e sempre viverá..
Partiu..e deixa saudade..saudade..amor que fica...nos primerios dias uma sensação estranha... um vazio..atender seus pedidos..doar tudo..especialmente para as pessoas que não podiam ter..as primas primeiro..pequenas lembranças..tesouros..não santuários...objetos..significativos..memórias lindas..terapia..medicação..para serenizar a dor...saudade eterna..assim como a certeza que ela está bem..como saber..de onde tenho esta certeza..não sei te dizer...mas garanto sei que ela está bem..chorar..algumas vezes..traz alívio..ir em frente com certeza..pois sempre foi esta filosofia de vida da Mari..minhoca..anjinho..todos seus apelidos..
Desejo e sonho da Mari realizado..Instituto Mariana-www.institutomariana.org.br-a busca de ajudar alguém que precisa..."Encarar desafios fica mais fácil quando percorremos o caminho junto"... 
Ficaria horas escrevendo sobre a Mari..eis aqui um pouco de quem foi, é e sempre será Mariana..Mari..minhoca..anjinho
Claudia De Crescenzo

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"Nunca desistam. Nunca, nunca, nunca, de coisa alguma, grande ou pequena, nunca desistam, a não ser por causa de convicções de honra e bom senso.”                                                                                                   Winston Churchill
               Essa foi a frase que me ajudou nos momentos felizes e ruins de uma determinada etapa da minha vida em que vivi feliz por estar ao lado de um jovem tão forte, tão alegre, tão inteligente e tão poeta!!!
               Quando descobrimos a doença do Marcel foi um choque mas eu sabia que tinha que me manter erguida como uma árvore de cerne, pois dali para frente a maioria das coisas dependeria de mim, pois meu marido e os meus filhos não poderiam marcar presença 24 horas como eu. Eles são médicos e estariam ajudando outras pessoas, pois bem não é fácil, mas se pensarmos no problema tenho certeza ele se torna maior e ai travamos e não conseguimos ir além de um passo. Quando iniciamos o tratamento dele no Einstein me propus a fazer 1000 (mil) origamis - de acordo com a lenda conseguimos nossas intenções -,na ocasião estava lendo a biografia de Churchill e o primeiro origami era azul e começamos a ficar na espectativa de que cor seria o último. Fui fazendo até que no último o meu filho me disse que eu não iria acreditar e a página do último era uma foto do Churchill dizendo "Nunca desista....... nunca ... puxa fiquei impressionada pois essa frase desde o começo era o combustível de minha locomotiva.
             Um ponto importante quando vivenciamos um terremoto desses em nossas vidas é manter a nossa fé intacta e cuidarmos de nós internamente senão destroçamos a nós e a quem estamos dando suporte. Uma das coisas que acho importante quando estamos acompanhando quem está enfermo é a nossa aparência.  Em nenhum momento o Marcel gostava de estar de pijama isso só à noite e em nenhum dia eu deixei de me arrumar para o meu filho pois via que isso era importante , pois a gente ficar com aquele semblante de que o mundo está ruindo é horrível para o paciente e  não traz nenhuma esperança de vida. Todos os dias ao abrir a janela e os primeiros raios do nosso astro rei adentrar, eu cantava ... “Como é grande o meu amor por você” para o meu filho e ele se desmanchava em risada pois eu encenava a música. Eu via como isso era importante. O meu filho dizia que sem a minha presença tudo seria difícil pois eu levava o bom humor  constantemente e não pensava no pior. Não lia sobre doença, isso eu deixava para os profissionais. Eu cuidava de outra parte e sei que se ficasse me inteirando a minha alegria seria sugada pela tristeza e isso eu não iria deixar. O tempo que passei com meu filho foi único e mágico ,aprendi muito com ele fazíamos análise de nosso comportamento nos comprometíamos a mudar ,nos divertíamos com música, filmes, poesias que ele fazia, e confesso que fui muito feliz apesar de tudo foi um tempo ruim e que o tornei interessante.
 É assim que penso da vida, que temos que ser alegres mesmo nos piores momentos  buscar o vento brando, para que possamos atravessar a tormenta sem deixar ela nos derrubar. Mas na minha vida passam anjos  e naquele momento passaram muitos anjos por nós pois os meus e os do Marcel se alinharam e trouxe para nós pessoas maravilhosas e isso ajuda muito a viver a nova vida imposta.
           Infelizmente meu filho se foi é muito difícil estar sem ele, sofremos muito  eu meu marido, pois meus 3 filhos eram muito unidos e a presença deles foi muito importante para a vida do Marcel. O que fiz em 5 meses precisaria de muito tempo para escrever em tantos detalhes.
           E busco as coisas em minha vida para viver melhor e se não fizermos assim enlouquecemos. É muito importante dar um sentido a tudo que vivemos. Reuni algumas amigas e fundamos um grupo para discutir o livro "Mulheres que Correm com os Lobos". È interessante, pois descobrimos e redescobrimos forças que muitas vezes estão inativas dentro de nós e muitas vezes nos achamos incapacitadas para determinadas tarefas árduas de nossas vidas e nesse grupo crescemos a cada dia eu, cada dia mais me redescubro e tenho consciência da força que possuo.
          Fica aqui minha experiência espero poder ajudar algumas pessoas ou pelo menos uma que pode estar passando por momentos tristes e usar ele para se fortalecer, pois creio firmemente que a vida só nos torna fortes quando enfrentamos de frente os problemas , deixá-los ver que são menores que nós e que por maior que ele seja não nos abate, nós é que o abatemos. Jamais em minha vida usei de artifício de calmantes para mascarar meus sentimentos sou aquela pessoa que pensa que a tristeza, os conflitos, a ansiedade, a angústia tem que ser vividos plenamente fazem parte do nosso cotidiano e nada é eterno, tudo é mudança, as coisas vem e se vão.

           
" Nos momentos de maior aflição sempre há o humor, que nos ergue até Deus e ameniza qualquer situação, mas antes de se chegar lá há um momento de dor com alegria ou alegria com dor onde você poderá cair em soluços profundos quando alguém está com problemas" Louise Hay

                  
E  quantas vezes caí e caio em soluços profundos , tento chegar ao fundo da minha alma mas vejo que ela não tem fim pois a dor é enorme mas devemos voltar à tona olhar o mundo e ver que tem mais pessoas que dependem de nossa força.

Marizete Ruiz